Friday, October 22, 2010

Envolvencia

A 6 de Outubro de 2007 mais um Portugues chegava a Angola.
Economista de profissao, com apenas 27 anos mas ja 5 anos de carreira no sector privado Nacional, este seria apenas mais um entre dezenas senao centenas de milhar de Portugueses a abandonar o Pais a procura de algo melhor... nao fosse este Portugues ser eu proprio.
Ao contrario da maioria dos Portugueses que ali se encontravam na altura, nao fui trabalhar para uma empresa Lusa, mas sim para uma Joint Venture entre uma multinacional de cultura Francesa e a maior empresa Angolana.

Olhando para tras apos estes 3 anos de expatriamento, sinto que foi uma aposta arriscada, uma jogada no escuro e podia ter corrido mal.
Em Portugal estava efectivo num grande grupo empresarial Nacional, tinha um salario miseravel para quem passou 18 anos a estudar e de quem se exigia nada menos do que perfeicao aos vinte e poucos anos, no entanto trabalhava a 10 minutos de casa, nao tinha despesas de deslocacao nem de alimentacao e tinha todas as normais mordomias da classe media (carro, casa alugada, ferias em paraisos tropicais uma vez por ano, jantares fora com os amigos e namorada... the lot).
Fui para Angola com um contrato de 1 ano. Objectivo e pragmatico, fiz contas a isso mesmo - 1 ano. Com um salario 3,5 vezes superior ao que auferia em Portugal e desiludido com a cultura e ambiente da empresa em que trabalhava, decidi que ou aceitava ou passava o resto da vida a lamentar nao ter arriscado.

A namorada (entretanto esposa) ficou em Portugal. Ve-la-ia de agora em diante de 10 em 10 semanas por 3 semanas de cada vez. Nao parece muito mau, mas e uma eternidade para que passa por isto.

Em Angola aprendi o que e tomar banho com 2 garrafas de 1,5L de agua mineral; que a electricidade e tudo menos uma banalidade; que comer um gelado pode ter um periodo de espera de 3 meses; e que o dinheiro por vezes nao vale absolutamente nada.
Nao vou tentar explicar as privacoes (muitas delas de natureza psicologica) por que muitos expatriados passam em Angola (em especial nas provincias), mas ficamos todos com uma sensacao de injustica quando ouvimos alguns compatriotas falarem.

Ao fim de 2 anos em Angola o desejo de voltar a Portugal era imenso. Tinha entretanto casado e tido uma filha. A ideia de ver a minha filha a cada 10 semanas era algo muito dificil, pelo que terei enviado talvez uma centena de CV's ao longo de varios meses. Fui chamado para 3-4 entrevistas... consegui ir a uma... fui rejeitado.
Ao longo da minha busca por um regresso a Portugal, apercebi-me que nao ia ser facil o regresso e tentei entao algo um pouco melhor no estrangeiro. Comecei entao a mandar alguns CV's (poucos) para posicoes no estrangeiro. Cerca de 6 em 10 CV's que enviei resultaram em pelo menos um telefonema. Tive que rejeitar entrevistas e passar a seleccionar muito bem os anuncios a que respondia. 90% destas empresas nao eram Portuguesas.
Conclusao - Portugal e um pais tao desenvolvido e com quadros tecnicos tao qualificados, que um tipo bom para trabalhar com uma multinacional Francesa, Inglesa ou Americana nao serve para trabalhar ca numa PME.

Acabei entao por encontrar uma multinacional Inglesa que me contratou. A posicao nao e propriamente fixa mas permite-me passar uns 4-5 meses por ano em Portugal e nunca estou fora mais do que 6-7 semanas de cada vez. Os locais de trabalho sao Reino Unido e Medio Oriente, principalmente o Norte do Iraque (Kurdistao).

Tendo passado os ultimos 3 anos fora do pais, ganhei um certo distanciamento a Portugal. Nao vejo as coisas como o meu dia a dia, mas vejo-as de fora com um sentimento de posse.
Portugal tambem e meu! Eu tambem sou Portugal!
Este espaco apenas pretende dar a minha visao muito pessoal do que e Portugal, do que devia ser, e do que pode e deve ser feito por cada um de nos para que tal aconteca. O meu background e a minha expatriacao nos ultimos 3 anos influenciarao em muito tudo aquilo que eu escrever, por isso achei de vital importancia escreve-lo aqui... apenas para que nao hajam duvidas.